O poder de compra diz muito sobre o que esperar para comércios e indústria de um país. E isso influencia diretamente a sua empresa. Por isso, é fundamental que o empreendedor esteja atento aos indicadores relacionados ao poder de compra, para acompanhar a economia, manter seu negócio nos trilhos e aproveitar oportunidades.
Quer entender melhor a relação entre o poder de compra do brasileiro em 2023 e o sucesso da sua empresa? Então, vem com a gente!
O que é poder de compra
O poder de compra de um indivíduo ou de uma população representa a relação entre seus recursos financeiros, como o salário, e o conjunto de bens e serviços que devem ser consumidos, como produtos de cesta básica, higiene pessoal, etc.
Primeiramente, o aumento do salário mínimo para 2023, acaba de ser definido em R$1.320,00. Esse é um ótimo indicador para melhorar o poder de compra do brasileiro. No entanto, é preciso entender muito mais sobre esse tema, já que apenas o aumento do salário mínimo não necessariamente significa crescimento de vendas para as empresas.
Em resumo, o poder de compra é a capacidade de consumir. Ou seja, é ter dinheiro ou ativos para comprar aquilo que precisamos e queremos para sobreviver e viver.
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O que pode aumentar o poder de compra
Como podemos concluir, o aumento do poder de compra pode ser uma consequência do aumento de todos os recursos recebidos. Ou seja, além dos salários, temos lucros, juros e outros rendimentos que representam, em termos mais técnicos, a chamada remuneração dos fatores de produção. Isto é, tudo aquilo que a pessoa recebe como renda.
Quanto maiores forem esses recursos em geral, maior tende a ser também o poder de compra do indivíduo.
Mas, lembre-se, para avaliar o poder de compra de uma população, não basta observar apenas seus rendimentos. Isso porque, no meio desta relação de receitas e gastos, existe um fator muito conhecido de todo mundo, em particular dos brasileiros, a inflação.
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O que pode diminuí-lo
A inflação é popularmente descrita como o aumento generalizado dos preços dos bens e serviços por um período prolongado.
Então, quando a inflação aumenta, é quase certo que haverá comprometimento do poder de compra da população. Isso acontece porque será exigido da pessoa física ou jurídica uma quantidade maior de recursos para comprar a mesma quantidade de bens e serviços. Afinal, quanto mais caros os produtos, menos podemos comprá-los. Ou seja, é exatamente a redução do poder de compra.
Como é feito esse cálculo
Como falamos, o Brasil já teve problemas graves com a inflação, como no começo dos anos 1990, quando o índice de preços ao consumidor chegou a incríveis 80% de variação em um único mês. Por isso, hoje temos à nossa disposição uma grande quantidade de índices de preços, como o IPCA e o IGP, por exemplo, que tomam uma média de diversos preços de modo a resumi-los em um único número para medir a inflação.
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Mas, para descomplicar a vida, vamos adotar como exemplo o índice oficial do país, o IPCA. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é usado pelo Banco Central do Brasil como referência para medir a inflação do país desde 1999, quando teve início o chamado Regime de Metas para a Inflação.
De modo geral, a perda do poder de compra pode ser facilmente identificada a partir da variação do IPCA.
Francisco Ferreira, nosso CEO, conta um pouco sobre a economia do Brasil após as eleições de 2022:
Entendendo na prática
Então, imagine que você tenha sido contratado em janeiro de 2022 para receber R$3.000 de salário líquido. Agora, suponha que, de janeiro a agosto deste mesmo ano, a inflação acumulada tenha sido de 4,8% – e foi mesmo, sério. Admitindo que você não tenha recebido nenhum aumento nos sete primeiros meses em que trabalhou, na média, o seu poder de compra foi reduzido em cerca de 4,8%.
Assim, os seus R$3.000 de salário passam a comprar menos bens e serviços em agosto do que compravam em janeiro, quando você foi contratado.
Bem, mas essa é só uma parte da história. A outra, é mais difícil ainda, mas nós vamos sintetizar aqui. O IPCA é uma média da inflação percebida pelas pessoas e pode ser muito maior que o indicador oficial.
Ou seja, considere que, depois de 12 meses do início do seu contrato, o seu chefe diz que vai reajustar o seu salário em 6%, por exemplo, de modo a repor a perda do seu poder aquisitivo medido pelo IPCA no último ano. Caso a sua cesta de consumo (aquilo que você consome mensalmente) tenha aumentado além da variação média do IPCA, você também perderá poder de compra mesmo com o reajuste salarial.
Como o poder de compra afeta as empresas
Dizer que o seu poder de compra diminuiu é o mesmo que dizer que a mesma quantidade de dinheiro pode comprar menos coisas agora do que comprava anteriormente.
Dito isso, o que acontece quando o poder de compra das famílias é reduzido? Simples, as famílias passam a consumir menos.
E, quando as famílias se deparam com a necessidade de escolher aquilo que vão comprar, os primeiros itens retirados da lista são aqueles que chamamos de supérfluos. Ou seja, as pessoas param de consumir itens que não são considerados bens e serviços de primeira necessidade.
De modo geral, é priorizado o pagamento/consumo de alimentos, bebidas, combustíveis, aluguéis e financiamentos, energia elétrica, internet, água etc. Por outro lado, entram na lista de corte, ou adiamento de consumo, cinema, festas, roupas, acessórios e itens mais caros como eletrodomésticos, veículos, entre outros.
Setores mais afetados
Como vimos, os primeiros setores a sentirem o impacto da redução do poder de compra são aqueles relacionados a bens não essenciais.
Primordialmente, o primeiro impacto sentido é na indústria que produz bens de consumo duráveis e semi-duráveis (roupas, acessórios, móveis, eletrodomésticos, veículos, casas) e o comércio que vende todas essas coisas. Também entra no primeiro pelotão impactado aqueles negócios que oferecem serviços não essenciais, como bares, restaurantes, entretenimento etc.
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Lembrando que, a depender do grau de perda do poder de compra, até mesmo as empresas que oferecem bens de primeira necessidade podem sofrer o impacto do empobrecimento relativo da população. Isso acontece porque, diante da redução do seu poder de compra, pode-se optar por migrar para o consumo de marcas que oferecem um preço mais acessível ou mesmo trocar os produtos consumidos por substitutos.
Como exemplo, temos o recente aumento no preço da carne no Brasil que reduziu sensivelmente a venda desse item e melhorou muito o caixa das empresas que vendem massas. Isso porque as pessoas passaram a consumir mais macarrão, quando o preço da carne disparou. Além disso, a venda de arroz também teve impacto negativo, já que o arroz é um acompanhamento para pratos de carne e não para massa.
O que esperar para 2023
Ao contrário do que aconteceu em 2022, o que se espera para o ano que vem é que a inflação continue caindo, pelo menos, nos primeiros meses do ano.
Sim, nós sabemos que os preços continuam salgados, mas, no geral, a inflação tem reduzido de forma repetitiva. Em complemento, a tendência de curto prazo é que esse processo chamado de desinflação continue até a metade de 2023.
No entanto, apesar de a inflação estar em um ritmo mais fraco, ela continua muito viva. Não que isso seja uma ameaça ao país ou qualquer coisa deste tipo, mas significa dizer que, olhando mês a mês, o poder de compra pode continuar reduzindo ao longo de todo o ano de 2023.
Além da inflação, que, ao longo de todo o ano, deve ser mais elevada em 2023 que em 2022, temos o problema de salários. Apesar da melhora vista no mercado de trabalho ao longo de 2022, o Brasil ainda tem cerca de 9 milhões de desempregados. Assim, os salários de admissão continuam relativamente baixos. Isso ajuda a reduzir o poder de compra.
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Por fim, esperamos que a economia brasileira perca parte do ritmo que foi visto nos últimos dois anos, considerando a taxa básica de juros em patamares muito elevados. Isso deve contribuir para um relativo desaquecimento do mercado de trabalho.
Agora que você já sabe como o poder de compra pode influenciar as vendas, é hora de se ajustar ao movimento da economia e se preparar para vender cada vez mais.
André Galhardo é economista-chefe da Análise Econômica, professor universitário nos cursos de Ciências Econômicas, Administração e Relações Internacionais, coordenador do Grupo de Pesquisa DEPEC da UNIP e Mestre em Economia Política pela PUC-SP. Possui ampla experiência em análise de conjuntura econômica nacional e internacional, e é autor do livro “O Salto do Sapo: a difícil corrida brasileira rumo ao desenvolvimento econômico”.
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